Capítulo 2 - Ansiedade.

Maldição ou praga, não importava o que se acreditava naquela época: os carniçeiros eram piores do que as mais contagiosas e assasinas das doenças. Desse modo, vinte anos foram o suficiente para marcar a história dos habitantes de Lacrymaria Olor.
A instauração de uma certa nova lei permitiu a execussão de carniçeiros em terreno desde sua descoberta e em salão por votações. Mesmo sendo o melhor método para eliminà-los, corria-se grandes riscos de matar inocentes.
Desde o último caso, à mais ou menos sessenta anos atrás, não se houve mais votações:
“Toc toc toc” – Batidas fortes na porta ecoam por todo salão.
“Crash” – Com um chute forte, um homem abre a porta.
Ele carregava outro amarrado por cordas que é em seguida arremessado no centro do salão. Salão este, preenchido pelos habitantes do vilarejo que se abrigavam naquele lugar para se proteger dos carniçeiros:
- Eu o encontrei tentando cruzar o lago. – Fala ele atravessando a sala com suas botas ressoantes e acendendo seu cigarro.
- Senhor Linder, você está aqui pela denúncia de ser um carniçeiro, tem algo à declarar? – Diz um homem sobre o pódio do outro lado do salão.
Em seguida seus companheiros dessamarram as cordas do homem ao chão para que ele pudesse dar a sua declaração. Sr. Linder se move de forma lenta mexendo seus braços para se apoiar no chão e continua sentado. Ele move os olhos de baixo para cima e vê cada centimetro do rosto do homem no pódio. Junto do suor que fazia seu rosto parecer que estava derretendo:
- Você foi acusado de tentativa de assasinato duas vezes e foi convidado para as votações em ambas. Por esse motivo, tivemos que mandar Philipa atrás de você... Nessa situação não poderemos deixar você fora-
- Não vamos ficar trancados mais à força! – Interrompe o homem de bigode ao lado clamando pela comoção coletiva.
Philipa e seus companheiros seguram Sébastien e confiscam o que seria uma pequena carteira feita de couro preto e levam até o homem sobre o pódio:
- Sua liçenca vai ser confiscada durante as votações e você poderá tê-la de volta se não for considerado mais culpado... Portanto, em nenhunha circumstância, poderá sair do abrigo.
Por alguns segundos o silêncio preenche o salão. Isto é, até o momento nenhuma possível vítima dos atos do acusado teria a coragem de dar a sua denúncia. À esse ponto, todos ouviam os rangidos da estrutura de madeira do local e até mesmo os próprios batimentos cardiacos. Sr. Linder não podia falar nada até que alguma pessoa presente do salão apresentasse acusações contra ele:
- Eu... – Uma voz tremula e fina de uma pequena criança com a mão erguida, alguém enfim levantou a voz.
- Sébastien tentou me matar... – As lágrimas começam à escorrer pelo seu rosto. – Ele atirou em mim... E ficou correndo atrás de mim, huh... – Ela se desespera e se engasga. – Ele esperou eu cair pra vir me pegar. – Em seguida a criança põe as suas mãos na boca e chora arrependida.
Diretamente após a sua declaração os murmuros começam entre os habitantes da vila que estavam no salão:
- Preciso do silêncio de todos presentes aqui... Preciso apenas que todo aquele que queira fazer alguma outra denúncia, por favor, levante a mão. – As vozes dissipam-se.
Retornamos ao estado do silêncio agonizante por alguns momentos:
- Sr. Linder, você conhece as regras, comece a sua defesa-
- Senhor Kessler, eu atirei na Magdalene, mas eu tinha certeza que era uma ave- “Ave daquele tamanho não existe por aqui, o que eu estou falando?” Eu corri atrás dela para ajudar, eu nunca teria coragem para matar alguém, mesmo se essa pessoa fosse um lobisomem! “Ninguém vai acreditar em mim, eu sou um caçador”. – Ele não deixou nenhum segundo passar quando teve a chance de se defender, porém ele havia esquecido que precisava convencê-los da melhor maneira:
“Não foi o que você disse quando quebrou a perna do meu filho numa brincadeira-“
“E ele também atirou em mim e disse que estava caçando um coelho!”
O povo se agita e várias outras denúncias contra o incriminado aparecem. O barulho oscilante já irritava Kessler:
- Calem-se! Durante a defesa, apenas a casa Linder e o acusado podem falar. E em seguida, apenas em seguida, começaremos as votações... – Exclama ele estendendo sua mão para exprimir o gesto do silêncio. Imediatamente ele olha para a família Linder e para Sébastien, ele sabe que alí nada mais seria dito:
- Acredito que já podemos começar com as votações.
- De acordo... – Ele responde seu companheiro bigodudo.
Enfim as votações tomam conta. Cada mão que se levanta, ira ao sinal dado, declarar o seu voto para decidir quem será executado. Havendo ou não acusados declarados naquele momento, cada camponês tem o direito de votar em quem acreditar ser um carniçeiro.
O sinal, a primeira mão que aponta um escolhido é de Kessler, logo após, todos os outros habitantes que levantaram suas mãos apontam para quem desejam executar como carniçeiro. Consequentemente o prédominio dos votos é para Sébastien Linder.
E a contagem começa.
Apenas a voz do contador ecoa pelo salão, enquanto isso, o agora condenado, Sr. Linder, terá que esperar pacientemente até poder se enunciar uma última vez.
- 56... 57... 58! Isso são 14 votos isentos, 2 votos para Nina Müller, 3 votos para a caçadora Yuki Kohler, 3 para o líder da vila Robert Kessler, 5 votos para Magdalene, 8 votos para o caçador Philipa Wuethrich, 11 votos para o conselheiro da vila Hans Fuchs e 58 votos para o caçador Sébastien Linder.
Um leve suspiro: ao tentar levantar sua voz, Sébastien é atacado com um golpe em suas costas e é mobilizado. Yuki o agarra pelos cabelos erguendo sua cabeça e então Philipa comprime seus dedos contra as bochechas do condenado. Ele segue puchando a mandibula para baixo tentando abrir a boca de Sébastien:
- Presas grandes são sinais de licantropia. – Diz Philipa.
Antes mesmo de enunciar uma única palavra, a casa Linder foi proíbida naquele momento de apresentar defesa. Pois depois das votações, todas as defesas e acusações, exceto do condenado, podem ser recusadas pelo mestre de salão. Agora, era apenas questão de minutos para decidirem a execussão e, como prevista na lei, o condenado daquela votação terá sua vida sacrificada da mesma forma como a última morte por carniçeiro foi descoberta. Dessa maneira, evitava-se massacres brutais contra próximas vítimas de carniçeiros:
- Então, Senhor Linder, você terá a execussão de Margaret Meyer. À exatamente onze horas e quarenta e quatro minutos, você será devorado vivo no bosque do castelo. Especificações serão apresentadas durante a execussão. – Enuncia o mestre de salão.
Sébastien sabia que não lhe restava muito tempo até sua execussão pública tomar lugar. Inocente ou culpado, não se podia fazer mais nada por sua pobre vida. Para ele, acreditar que estava morto naquele momento o faria sentir menos dor após.
Seus olhos que logo começam a lacrimejar, não demonstram tristeza, mas uma aussência de suas emoções. Ele vê sua mãe gritar de longe e todos à volta o observando com olhares de julgamento. Tudo poderia fazê-lo desistir de viver suas últimas horas, mas o medo da brutalidade o fazia se desesperar.
Quando Yuki decide por um leve segundo em procurar por uma corda, ela não percebe que acaba de soltar a mão de Sébastien. Ele não esperou um segundo para se virar e logo imobilizá-la. Em ato contínuo, Linder puxa uma faca do bolso de Yuki e usa para apunhalá-la com um golpe certeiro no peito.
Sébastien acerta facilmente a faca no peito de Yuki jogando seu corpo contra o dela. Os dois caem ao chão, Kohler não consegue reagir e tosse seu sangue no rosto do seu agressor. (Os dois caem ao chão. Não conseguindo reagir, Yuki, desesperada, dá leves gemidos de dor como um um coelho sendo abocanhado. Ela segue tossindo sangue no rosto do seu agressor e deixa escapar finas lágrimas.) De costas para situação, Philipa percebe as expressões das pessoas ao redor e ao se virar, encontra a cena. Antes mesmo que Sébastien conseguisse acertar a próxima facada, já via-se metade dos aldeões se jogando contra ele para detê-lo.
Tentanto se proteger, ele cotinua por balançar sua faca por todos os lados. Suas expressões de medo eram exageradas e seus movimentos não haviam lógica. Em dado momento, um tiro ensurdecedor ecoa, uma bala rasga a roupa de Philipa fazendo tagente em sua pele com a tragetória. Bala esta que acerta o abdômen de Linder, jogando-o ao chão.
Todos os outros presentes se apavoram e olham para todos os lados até perceberem uma pequena figura. No outro lado do salão está um menino que não aparentava ter mais que 9 anos. Grandes lágrimas escorrem pelas suas bochechas, mas seu rosto era inexpressivo. Ele acreditava que aquilo era melhor do que a execussão prevista para Sébastien, porém sua dor no peito era incomensurável. Pois, foi ele quem executou seu próprio irmão.
E desde de então não houveram mais novas vítimas, portanto não houveram mais votações.

Final do capítulo